sábado, 14 de dezembro de 2013

Pássaro cativo



Dás-lhe alpiste, e armas, num galho de árvore, o alçapão;
E, em breve, uma avezinha descuidada,
Batendo as asas cai na escravidão.

Dás-lhe então, por esplêndida morada,
A gaiola dourada;
água fresca, e ovos, e tudo:




Porque é que, tendo tudo, há de ficar
O passarinho mudo,
Arrepiado e triste, sem cantar?

É que, crença, os
pássaros não falam.
Só gorjeando a sua dor exalam,
Sem que os homens os possam entender; 


Se os pássaros falassem,
Talvez os teus ouvidos escutassem
Este cativo pássaro dizer:



“Não quero o teu alpiste!
 Gosto mais do alimento que procuro
Na mata livre em que a voar me viste;
Tenho água fresca num recanto escuro




Da selva em que nasci;


Da mata entre os verdores,
Tenho frutos e flores,
Sem precisar de ti!

Não quero a tua esplêndida gaiola!
Pois nenhuma riqueza me consola 
De haver perdido aquilo que perdi ...

Prefiro o ninho humilde, construído
De folhas secas, plácido, e escondido


Entre os galhos das árvores amigas ...


Solta-me ao vento e ao sol!
Com que direito à escravidão me obrigas?
Quero saudar as pompas do arrebol! 

Quero, ao cair da tarde, 
Entoar minhas tristíssimas cantigas!

Por que me prendes? Solta-me covarde!



Deus me deu por gaiola a imensidade:Não me roubes a minha liberdade ...

Quero voar! voar! ...
Estas cousas o pássaro diria,
Se pudesse falar.
E a tua alma, criança, tremeria,
vendo tanta aflição:
E a tua mão tremendo, lhe abriria
A porta da prisão...


Olavo Bilac