segunda-feira, 17 de março de 2014

Ontem... Hoje


Hoje, pensamentos me envolvem  no embalo da chuva fina que cai como num sussurro.  Busco nos arquivos guardados, lembranças... écos  de um passado vividos em plenitude de acordo com o tempo. De origem no passado, as lembranças brincam de esconde – esconde, ora alegres ora tristes, ora saudosas, e só Deus sabe porque,  até então  eu ainda não consigo lidar com isso.
Às vezes o passado interrompe meu presente sem pedir licença, e se instala como se fosse o grande senhor.  Então mesmo eu não querendo,  sorrateiro ele se chega e toma conta de meus pensamentos. Nesses momentos, para acabar com a nostalgia eu escuto  Gone do U2, e volto para o presente, feliz por ter superado até então, e minhas lembranças se tornam  em momentos gloriosos já vividos lá no túnel do tempo. 
Ontem

Éramos oito pessoas na família, juntamente com o pai e a mãe.
Quando criança, eu era muito vivaz, e também muito sensível. Adorava correr pelo pátio, vendo as folhas das árvores caindo sobre minha cabeça e  sentindo o vento agitar meus cabelos quando soprava o vento Minuano.  O frio gelava meu sangue, mas o prazer de desfrutar o vento era maior. Me sentia como parte dele, o próprio vento!
Vendo o passado desfilar em minha mente, chego a sentir o frio cortante que naquela época  fazia.
A rua onde morávamos, era de chão batido rodeada de mato e campo. Era uma rua de pouca vizinhança e difícil de se caminhar nela pois  sendo uma lomba arenosa, escorregávamos muito.
Como toda criança eu gostava muito de subir nas árvores. Eu sabia, exatamente onde e quando havia frutas do mato para buscar,  como pitangas araçás, amoras e goiabas e as vezes até morangos silvestres. Eu me deleitava com isto.

Eu e minhas irmãs gostávamos de passear no mato e descobrir bonitos recantos. Ficávamos brincando de balanço nos cipós ali existentes. Era tão bom brincar assim que esquecíamos o tempo passar. Naquela época não havia perigos como hoje atualmente existe. A liberdade era verdadeira e desfrutávamos disto com muita alegria e simplicidade. Não sei como, eu sempre encontrava filhotes de passarinhos nas encostas do mato o que me deixava feliz e preocupada com eles. Eu não sabia exatamente o que fazer para devolvê-los para sua espécie. Então eu os levava para casa e colocava dentro de uma caixa, encima de um pano. Não me esquecia de manter a caixa no alto para que o gato não os pegasse.  Geralmente eles morriam apesar de alimentá-los. Eu não sabia como cuidar direito.



Nas noites de verão, noites quentes e abafadas, o pai ficava sentado na área da casa tomando chimarrão com a mãe, e nós ficávamos brincando de pegar  vaga-lumes. Eles  formavam rabiscos de luz na noite, nos encantando.  A parte iluminada, geralmente na cor verde florescente dos vaga-lumes que também são chamados de Pirilampos, fica na parte inferior da região abdominal, e a bioluminescência (emissão de luzes por alguns animais) tornavam nossas noites especiais, riscando a noite com sua luz. Era bonito de se ver quando em noites  muito quentes e muito escuras os vaga-lumes apareciam em grandes quantidades para iluminar o mato e ao redor. Ficávamos correndo atrás deles para pegá-los, e soltá-los dentro de casa para tudo iluminar (e era possível!).



Só para nosso deslumbramento naquele tempo, as cigarras e os grilos e sapos faziam serenata para nós.
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Mais ou menos neste período, veio morar perto de nossa casa, uma nova família que mais tarde haveriam de  ser nossos grandes amigos;  a menininha daquela época a nova vizinha , se tornou minha grande amiga e hoje é madrinha de minha filha.

Hoje
continuo morando nesta mesma rua, só que completamente mudada a rua e eu. A rua está pavimentada e completamente habitada com novos moradores, restando uns poucos daquele tempo, que ainda vivem. Eu era criança quando vim morar aqui e hoje, após viver longa história de encantos e desencantos, ilusões e desilusões,  com os filhos casados  mas não distantes,  continuo aqui.  Já não vejo mais os vaga-lumes.  A rua agora é completamente habitada, asfaltada, movimentada e iluminada.  Já não encontro mais filhotes de pássaros em meus caminhos. Os campos outrora imensos e com vacas pastando sumiram para dar lugar a moradias; as flores do campo se tornaram raras em meus caminhos e agora as vejo  no Google e em minhas lembranças ou quando saio à passeio. Uma pergunta não me sai da cabeça: para onde foram meus Pirilampos? Onde estão meus recantos de sombra fresca e as frutas silvestres? Sei que o tempo passa e tudo muda, mas isto não impede que eu os guarde com carinho na mente para reviver a magia  nas minhas lembranças, With  or without.
 Enquanto escrevo minhas memórias, a música  Unforgettable Fire passa e repassa na minha mente, então ligo meu som para escutá- los. Eu nunca imaginei que um dia, eu haveria de gostar tanto assim de uma banda de rock. Suas músicas embalam  minhas lembranças em vários momentos,  tornando-os mágicos e  com prazer  de lembrar o que já fez  parte de mim e que ficou  para trás, juntamente com os sonhos  de outrora que já não brilham mais.


           Catarina Kist