domingo, 31 de março de 2013

Rosa de hiroxima






Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.

Vinicius de Morais
 

Soneto da separação



De repente do riso fez-se o pranto 

Silencioso e branco como a bruma 

E das bocas unidas fez-se a espuma 

E das mãos espalmadas fez-se o espanto.



De repente da calma fez-se o vento 
Que dos olhos desfez a última chama 
E da paixão fez-se o pressentimento 
E do momento imóvel fez-se o drama. 


De repente, não mais que de repente 

Fez-se de triste o que se fez amante 

E de sozinho o que se fez contente. 

Fez-se do amigo próximo o distante 

Fez-se da vida uma aventura errante 

De repente, não mais que de repente.


Vinicius de Morais

sexta-feira, 22 de março de 2013

Fila indiana



Para mim, os homens caminham pela face da terra em fila indiana.
Cada um carregando uma sacola na frente e outra atrás.
Na sacola da frente, nós colocamos as nossas  qualidades.

Na sacola de trás, guardamos os nossas defeitos.

Por isso, durante a jornada pela vida, mantemos os olhos fixos nas virtudes que possuímos, presas em nosso peito.
Ao mesmo tempo, reparamos impiedosamente nas costas do companheiro que está adiante, todos os defeitos que ele possui.
E nos julgamos melhores que ele, sem perceber que a pessoa andando atrás de nós, está pensando a mesma coisa a nosso respeito.
_Mude, ainda dá tempo, não esqueça...
_A vida é como jogar bola na parede;
_Se for jogada uma bola azul, ela voltará azul;
_Se for jogada uma bola verde ela voltará verde;
_Se for jogada fraca, ela voltará fraca;
_Se a bola for jogada com força, ela voltará com força.
Por isso, nunca jogue uma bola na vida de forma que você não esteja pronto para recebê-la.
A vida não dá nem empresta; não se comove nem se apieda.
Tudo quanto ela faz é retribuir e transferir aquilo que nós oferecemos...
                                  Alberto Einsten

quinta-feira, 14 de março de 2013

Quanto mais barulho mais vazio







Quanto mais barulho, mais vazio

Certa manhã o meu pai, muito sábio, convidou-me a dar um passeio no bosque. Deteve-se subitamente numa clareira e perguntou-me:
- Além dos pássaros, ouves mais alguma coisa?
Apurei os ouvidos e respondi:
- Estou a ouvir o barulho de uma carroça.Isso mesmo, disse o meu pai, de uma carroça vazia.
Perguntei-lhe:
- Como sabe que está vazia, se ainda a não vimos?
- Ora, é fácil! Quanto mais vazia está a carroça, maior é o barulho que faz.
Cresci e hoje, já adulto, quando vejo uma pessoa a falar demais, aos gritos, tratando o próximo com absoluta falta de respeito, prepotente, interrompendo toda a gente, a querer demonstrar que só ele é dono da verdade, tenho a impressão de ouvir a voz do meu pai a dizer:

- Quanto mais vazia a carroça, maior é o barulho que faz!